3 de dezembro de 2008

Carta aberta de Maria Aparecida Souza, aluna da EJA

Meu nome é Maria Aparecida de Souza, tenho 41 anos, sou cidadã brasileira, de nacionalidade brasileira. Parei de estudar aos 18 anos de idade. Precisei trabalhar para completar a renda familiar, pois na época apenas meu pai trabalhava para alimentar seis bocas. Os anos se passaram e com eles minhas oportunidades de voltar à escola, tinham apenas uma saída: supletivo. Mas eu queria continuar a aprender, conhecer, entender, adquirir conhecimento. Para mim isso era importante demais! E eu queria adquirir isso tudo dentro de uma sala de aula, numa excelente escola, com educadores também excelentes e portadores de um dom maravilhoso de ensinar por amor e com amor. Não conseguia, até me deparar com a terrível apatia do meu filho de 16 anos pela escola onde estudava. Não sabia o que fazer, foi quando ouvi falar da Escola Leonardo Sadra, logo procurei informações acerca dela.

Excelente, excelente! Todos da direção, professores, colaboradores (cantineiras, faxineiras etc.). Uma escola maravilhosa, lá, qualquer um tem a oportunidade de recomeçar. Meu filho estava comigo, também gostou e tornou-se aluno da escola. Queria também uma vaga para mim e durante dois anos tentei conseguir. Não desisti, em 2007 tentei novamente e consegui. Hoje estou na reta final e só tenho a agradecer ao Projeto EJA e a todos os educadores de Contagem.

Meu filho de 16 anos havia conseguido uma vaga aqui na escola Leonardo Sadra, mas penso se ele terá esse seu direito respeitado, por causa da implantação do mais novo projeto na escola, o PROJOVEM e também pela mudança da idade mínima para se ingressar no EJA, que agora será de 29 anos. Será que a implantação desse novo projeto irá tirar-lhe o direito de cidadão? No próximo ano ele começará a trabalhar, onde irá estudar? Será que terá que esperar 13 anos para ter seu direito de recomeçar garantido?

Considero que o projeto e essas mudanças “marginalizam” e desrespeitam grande parte da população. Nós, como estudantes, como pais, como contagenses, não fomos consultados ou ao menos informados. Não queremos ter que digerir todo e qualquer projeto que órgãos da Prefeitura queiram nos enfiar “goela abaixo”. Eles é que deveriam nos proteger contra qualquer medida antidemocrática e defender nossa participação em tudo o que nos diga respeito. Não queremos que interfiram em projetos que tenham um bom andamento como a EJA!

Como mãe, aluna, cidadã, repudio e rejeito um projeto que amputa os sonhos de homens, mulheres e jovens que, viram no curso da EJA a possibilidade de voltar a estudar. Feito às escuras, com poucas garantias de sucesso.

Queremos melhorar ainda mais o que já temos aqui, uma educação de qualidade, queremos a valorização de cada educador, garantindo-lhes o direito de continuar construindo e contribuindo para a educação integral de todos nós.

Quanto ao PROJOVEM, deveria ser implantado em escolas que têm menos condições. As verbas vindas do Governo Federal seriam bem aproveitadas para a criação de infra-estrutura para as comunidades atendidas por essas escolas.

Temos o direito de exercer nossa cidadania. Não fomos consultados, não pudemos questionar, então vamos dizer agora que a nossa resposta é NÃO!                Não às reformulações que prejudiquem a EJA, a nós, a nossos professores. Diremos sim a todo projeto implantado de forma responsável, NÃO OPORTUNISTA e que traga melhoria para a educação e conseqüentemente para nossas vidas.

 

Contagem, 26 anos de novembro de 2008.