No dia 25/04/2016, ao
chegarmos à porta da Prefeitura para a Assembleia Geral de profissionais da Educação
de Contagem, em greve há 33 dias, já se observava um grande efetivo da Guarda
Municipal em todo o entorno. Iniciamos a Assembleia às 08h00min para informar os/as
trabalhadores/as sobre as últimas negociações, dentre elas não avanço na
proposta de reajuste e sobre a oficialização do corte de ponto para os/as
grevistas.
Concomitante à Assembleia,
um grupo de trabalhadores/as da Educação, da Saúde e membros da comunidade
escolar ocuparam a Prefeitura para exigir esclarecimentos do governo referentes
às duas questões citadas acima. Começamos a nos manifestar de maneira pacífica,
com músicas e palavras de ordem, quando repentinamente fomos repreendidos pela
Guarda Municipal de Contagem (GMC),dizendo que ali não era espaço para
manifestação e que estávamos impedindo o direito de ir e vir das pessoas, além
de estarmos atrapalhando o trabalho dos/as servidores/as, o que definitivamente
não aconteceu em momento algum.
Por volta de 10h00min, as
portas da Prefeitura foram fechadas, impedindo a entrada de qualquer cidadão/ã na
tentativa de isolar o movimento. A partir de então, iniciou-se um processo de
ocupação em duas frentes: uma interna, com cerca de 38 servidores/as; e uma
externa, composta por um grupo grande que permaneceu no local mesmo após o término
da Assembleia.
Este impedimento gerou
grande indignação nos/as companheiros/as que estavam na parte externa da
prefeitura e a tensão com a Guarda aumentou, uma vez que passamos a temer pela
nossa integridade física.
Por volta de 10h30min, o
grupo que estava impedido de entrar, insiste em oferecer apoio aos/as
companheiros/as na parte interna da prefeitura. Foi neste momento que houve uma
reação desproporcional por parte da Guarda Municipal e do Batalhão de Choque da
PM, que, em um uso desmedido da força, usaram spray de pimenta e golpes de
cassetetes indiscriminadamente, contra homens e mulheres, inclusive grávidas. Ficamos
aterrorizados/as assistindo à agressão sem conseguir fazer nenhum registro ou
ajudar as pessoas. A única arma que nos restava eram os gritos de “covardes”,
fascistas”.
Apesar da violência e da agressão,
o grupo externo se manteve em vigília. Foi providenciado o suporte logístico
para a ocupação: barracas, água, comida, etc. Por volta de 13h30min, chegou o
almoço, com uma quantidade suficiente para atender às duas ocupações: interna e
externa. Porém, um novo impasse: seguindo ordens superiores (do Secretário da
Defesa Social, José Rodrigues), a Guarda Municipal impediu a entrada de
qualquer alimento para o interior da prefeitura. Os/as companheiros/as
confinados/as somavam 5 horas de jejum.
Fomos isolados/as e
proibidos/as de receber alimentos. Durante todo o tempo fomos filmados/as,
fotografados/as e ridicularizados/as pela guarnição presente porque exigíamos o
direito básico à alimentação.
A entrada das portarias
passou a ter controle rígido e todos/as que tentavam entrar com alimentos eram
impedidos/as. Professoras grávidas chegaram a ser proibidas de entrar para
utilizar o banheiro. Uma vez caracterizados/as como participantes do movimento,
eram seguidos/as em todo trajeto interno na prefeitura, para garantir que não
houvesse contato ou ajuda com os/as educadores/as ocupados/as no saguão.
Uma trabalhadora do setor
administrativo interno da prefeitura, que tentou repassar alimentos da parte
externa para a parte interna do prédio, foi constrangida e advertida por sua
chefia imediata e um Guarda Municipal. A postura fascista gerou muita revolta
em todos.
Foram feitas várias
tentativas para negociar entrada de alimento, todas sem sucesso. O grupo
externo precisou intensificar as ações. A primeira delas foi contactar
mediadores para tentar resolver esse impasse: foram acionados forças políticas
diversas, centrais sindicais, líderes religiosos, entidades de Direitos
Humanos, enfim, tudo que tínhamos à mão naquele momento. Nenhuma solução
imediata.
Após 8 horas de jejum dos
companheiros confinados, o grupo externo precisou radicalizar. Deliberou-se,
então, fechar o trânsito em ruas do entorno da prefeitura. Munidos com uma
Kombi de som, apitos e faixas, denunciavam para a população o que os/as
servidores/as da educação e da saúde tinham sofrido e continuavam sofrendo por
parte do governo, além de pressionar para obter resposta rápida para o impasse
da proibição da entrada de alimentos.
Foram aproximadamente 10 horas seguidas de fome,
enquanto os alimentos aguardavam do lado de fora, deliberação do comandante da
guarda. Nesse período, os/as companheiros/as do lado de fora tentavam passar
biscoitos pelas grades do jardim, mas eram reprimidos/as pela guarda.
Somente à noite, depois de
muita negociação, foi liberada a entrada de comida.
No entanto, houve a
proibição da entrada de qualquer tipo de colchão, cobertor ou agasalhos. O frio
do chão atingiu a todos/as, pois mesmo o grupo tentando ficar acordado, em
algum momento, o cansaço nos abatia e tentávamos descansar. O chão, coberto de
jornais, virou cama e fomos tentando descansar. As trabalhadoras que eram mães
procuravam manter contatos com seus familiares no intuito de tranquilizá-los.
O segundo dia começou de
madrugada, sem o café da manhã. Mesmo estando acostumados, enquanto
trabalhadores da educação, a lidar com condições de trabalho desfavoráveis, o
dia foi difícil. Apenas a esperança nos movia na expectativa de que as
negociações avançassem de forma positiva.
A solidariedade dos colegas
nos chegava a todo instante, vendo-os acampados na parte externa, colados no
vidro da portaria principal ou via rede social expressando manifestações de
apoio. Novamente, depois de muita negociação, conseguimos acesso ao café da
manhã e almoço. Aguardamos a tarde toda e a falta de alimentos já não era o
nosso problema.
A tensão voltou a crescer:
não sabíamos se seria mais uma noite de ocupação. Ouvimos, por parte do
governo, que poderíamos ficar o quanto quiséssemos. Segundo eles, o movimento
não incomodava.
Após longos debates, muitas
avaliações, o grupo decidiu desocupar e deixar a parte interna da prefeitura.
Optamos por manter a ocupação externa.
Quase 40 horas de ocupação
na tentativa de manter a garantia dos direitos dos trabalhadores da educação do
município de Contagem. Também para sensibilizar as pessoas que governam esta
cidade, para que cumpram a lei e deem à educação a importância que ela merece.
Nós, trabalhadores da
educação, homens, mulheres, professoras, professores, mães, pais e jovens, que
estivemos mais de 40 horas mobilizados por uma causa muito maior do que nós
próprios, continuaremos acreditando que nada virá de mão beijada. Somente
através da organização, da mobilização e da luta pacífica conseguiremos
garantir nossos direitos, mas não se apagará de nossas memórias o dia em que
vivenciamos o poder fascista operando nas mãos de representantes de um partido
de esquerda, o Partido Comunista do Brasil, com uma História e princípios
manchados por um grupo sem nenhum compromisso com essa História.
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